Sem eira, nem beira (II)

As entrevistas do Sr.Pedro e do Tim ao Expresso e "i" legitimam e reforçam o que temos andado aqui a dizer desde a criação do Blog. Não existe sustentação artística ,popular e cultural para os Xutos e Pontapés continuarem a existir. Os dados são claros e incontestáveis:


O produto
As vendas dos seus álbuns estão decréscimo contínuo desde a década de 80 (ano do ultimo single com sucesso estrondoso). O fenómeno pirataria não se aplica pela falta de upload de álbuns de bandas portuguesas disponíveis na rede. A mensagem das suas músicas é inócua, desfasada da realidade e sem qualquer tipo de esforço intelectual (já falámos sobre muitos exemplos). A sonoridade (básica, com três ou quatro acordes tocamos metade do reportório) e atitude em que eles se inspiraram já deixou de existir. Os Clash já acabaram há 24 anos.


Os fãs
Os Xutos e Pontapés usam o motto do "Iguais a nós próprios" para se refugiarem do facto de não terem visão nem capacidade para apresentar algo diferente. A culpa é total e exclusiva dos seus fãs, admitem esta atitude com conivência sem qualquer espírito crítico. Não censuram, não barafustam e não protestam, parecem o Partido Comunista: é um clube de amor incondicional para toda a vida, base de voto sólida e boa capacidade de mobilização.

Os concertos
São a única banda que "colam" as festas universitárias às das santas padroeiras. Isso explica muito. São bafejados com multidões pela percepção generalizada de que a Casinha, o Homem do Leme e outras do reportório inicial fazem casa cheia. Para os promotores que vendem a cerveja, para os fãs porque não se fartam e o resto. Nesse resto temos os quarentões vão pela nostalgia, os trintões vão porque os pais gostavam, os vintinhos vão pela cerveja e pelas gajas. É em tudo semelhante à década de noventa com os Delfins, caiu a primeira peça do dominó e foi o que se viu. Cuidado com o que desejas Tim.

Os media
1 - É a coisa mais vergonhosa dos nossos dias. O pilhar diário pelo bombardeio mediático provocado pelo marketeers. É básica a premissa de conquista de mercado: Ataca-se um segmento conotando o produto a algo que gere empatia reduzindo a resistência de compra ou gerar preferência. Superbock, Sagres, Optimus e Guitar Hero foram inteligentes e fizeram o seu trabalho. Os Xutos foram outra coisa que a seu tempo terá as suas consequências.

2- A música sem eira nem beira, dúvidas houvessem, é uma paupérrima tentativa de gerar polémica e promoção gratuita. Não é música de intervenção e não tem qualidade. Um hino não critica ninguém em específico, insurge-se contra o estado da sociedade e materializa estados de alma. O ataque a Sócrates (acertado ou não) é pura basófia de indíviduos com pequenez intelectual e chico espertismo. De novo procura esconder a falta de sensibilidade e inovação musicais. O facto do Tim e o Zé Pedro terem feito estas entrevistas na mesmíssima altura do lançamento da música, como 3º single, reforça o objectivo destes. O Segundo single foi zero, o primeiro foi Optimus.

A histeria colectiva
O mais interessante é que existe uma admissão (inconfessável) de que a qualidade da sua música decresceu, mas uma coisinha chamada peer pressure instiga a que se goste de Xutos. Faz parte do ser-se português gostar-se de Xutos e Pontapés e se todos gostam quem sou eu para dizer o contrário. Parece o regime da ex-USSR onde as pessoas sentiam-se revoltadas mas não tinham como saber que as outras pessoas também se sentiam revoltadas e por isso o regime foi-se mantendo. Depois veio a Internet e foi o que se soube. Esperamos sinceramente ser os Gorbatchevs (10 comentários fresquinho já sei) desta nossa causa infinitamente mais insignificante. Escrevemos pelo amor aos nossos ouvidos e pelo fim da estupidificação colectiva.

Aos Xutos desejaríamos uma saída como a que o Luís Figo teve não tivesse o tempo para isso ter passado há muito. Nem San Siro nem abraços. Apenas o ridículo de uma banda que toca há 30 anos que não sabe quando terminar.